OXALA - O PERDÃO E O SILÊNCIO

 OXALA -O PERDÃO E O SILÊNCIO
Uma antiga Egbomi do terreiro de Mãe Baiana, certa feita me ensinou sobre Oxalá, o grande e misericordioso Orixá da criação, senhor das vestes brancas e da pureza.
Segundo ela, Oxalá ajudou o lenhador. Ficou dias empilhando troncos e no final de uma semana, o homem agradeceu-lhe e lhe fechou a porta da casa, sem sequer lhe presentear com algumas sobras de madeira para que pudesse cozinhar seu ebô.
Oxalá ajudou o agricultor a plantar tubérculos, mas na época da colheita, o moço não deu nem um inhame ao pobre ancião.
Oxalá consolou a viúva, mas depois de uns meses, viu-a desposar outro homem sem sequer encerrar o rito anual de axexê de seu marido falecido.
Oxalá carregou o balaio de peixes para o mercado. Chegando lá, os ladrões se aproveitaram de sua velhice e roubaram-lhe o cesto.
Oxalá adormeceu na rede e os pássaros se aproveitaram de seu sono profundo para devorar os frutos do seu quintal.
Oxalá se entristeceu com o mundo, se decepcionou com os homens e chorou silenciosamente. Secou suas lágrimas e voltou a ajudar a quem precisasse.
Oxalá é sábio, pois entende o valor do tempo e sabe que tudo no mundo funciona em ciclos. A circularidade da vida nos obriga a rever os nossos atos e quem hoje abusa, um dia será abusado; quem desdenha, um dia será desdenhado; quem mente, um dia será desmentido; quem ama, será amado; quem oferece, receberá ofertas e quem espera a hora certa, será agraciado com os frutos do outono.
Oxalá é misericordioso para com aqueles que reconhecem seus erros e pedem perdão antes de a vida completar seu giro. Depois que o ciclo se fecha, Oxalá não se pronuncia mais. O seu silêncio é a pior condenação que alguém pode receber, pois depois que Oxalá se silencia, nem mesmo a morte ousa fazer ruídos.
Para Oxalá, que é sábio e tem toda a eternidade diante de si, o tempo e a paciência são os ingredientes do melhor de todos os ebós.
📄Portuguez, Anderson Pereira. Contos de uma África Mítica: a educação pela oralidade nas religiões de matriz afro-brasileira. Ituiutaba: Barlavento, 2018.


 

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