Raspar Cabeça

QUAL É O SIGNIFICADO DE RASPAR A CABEÇA?
Raspar a cabeça é um momento de purificação e o modo de fazer a pessoa renascer, se preparando para receber sua divindade. Este ato litúrgico é chamado de labé, pelos iorubás, fárí, pelos fons, e catular, pelos bantus, sendo que hoje se associou o termo catular para o corte inicial do cabelo. O cabelo, para as pessoas, tem uma representação simbólica de poder, soberania, vivência e beleza. Tirar o cabelo, para o iniciado, significará cortar todos estes elos, retroceder à infância, época em que a pureza e a inocência estão presentes, sem existir a vaidade e a soberba, apenas a humildade.
O raspar a cabeça é também necessário para que as obrigações litúrgicas sejam realizadas diretamente sobre o orí, para que os elementos interliguem-se a este com mais facilidade. Representa o ato de dar equilíbrio à cabeça, proporcionar a harmonia necessária ao seu fortalecimento e poder fixar os elementos que participam da feitura. Recriando, então, no aiê, a mesma cabeça que foi preparada no orum por Babá Ajalá.
É importante esclarecer que não são todas as pessoas que têm necessidade de raspar totalmente o cabelo. Esta determinação é dada pelo Odu, pela situação de cada um, ou pelo Orixá. Não é um ato aleatório, ou que se faz quando o iaô deseja. Quando não ocorre a raspagem, o processo é diferenciado (e não podemos dizer, pois alguns podem interpretar como fundamento). Antigamente, em algumas grandes casas de Candomblé da Bahia não era costume raspar toda a cabeça dos iaôs, só em casos de extrema necessidade.
A navalha e a tesoura eram herdadas de Asé, sendo uma honra usar a navalha do seu mais velho, mas hoje precisam ser individuais para este ato, pois são instrumentos que serão utilizados no orí do iniciado e também na época de seu Asesê. E este procedimento é obrigatoriedade nos dias atuais, tanto como medida de higiene, como na prevenção contra doenças. Para algumas divindades, como Nanã, se for necessária a raspagem, esta não poderá ser feita com uso da navalha.
Logo após a raspagem o yawô já será afastado das demais pessoas e se recolherá em local previamente preparado para seu descanso. Mas não é somente o ato da raspagem que representa a consagração completa do iniciado na religião. Este cerimonial é acompanhado por várias liturgias, entre as quais a imolação de bichos, incisões sagradas, a pintura, o encantamento das folhas, a colocação do quelê, do ikodidé, do osu, de acordo com cada nação. Enfim, vários outros rituais ocorrem para que a iniciação seja realizada com sucesso, mas todos esses rituais devem permanecer em segredo, em respeito à religião.

Asé..!

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